Em meio a uma crise furacão que levou 20% do seu orçamento e ceifou ao menos
53 funcionários, a TV Cultura aposta em um novo velho apresentador para salvar
seu carrochefe: o "Viola Minha Viola" deve ser tocado por Ariclenes Venâncio
Martins, um mineiro nascido em Sacramento 85 anos atrás, que mora em uma
chácara em Indaiatuba (SP), onde faz recitais.
E que ficou famoso pela alcunha
Lima Duarte.
"Fui convidado. E aceitei. Vou conversar com a Globo na terça", disse Lima
à Folha.
O convite a Duarte quase põe fim a uma dança de quadrilha que se desenrolou nos
bastidores da Cultura desde que a cantora Inezita Barroso morreu em março e o
programa passou a ser reprisado: a decisão de quem assumiria uma das maiores
audiências do canal –há 35 anos no ar, o "Viola" chega a marcar 3 pontos no Ibope
em na Grande São Paulo, contra uma média de 0,5.
Cada ponto equivale a 67 mil
casas.
Outro nome que passou pela diretoria foi Renato Teixeira, 70, o homem que
cunhou a eufonia "caipira pirapora".
"Não chegou até mim. Eu vejo a televisão
num trampolim para um novo momento. O 'Viola' passou para a história, ficou
para trás", diz Teixeira.
Para ele, uma injeção de adrenalina seria ter um apresentador por ano.
O cantor e
deputado federal Sérgio Reis, 75, também foi aventado para a vaga, segundo
diretores da Cultura. Ele recusou pedidos de entrevista.
Leonildo Sanches, metade da dupla Leo Canhoto & Robertinho, era o predileto das
caravanistas que lotavam a plateia do "Viola". Aos 65 anos, o caçula dos elencáveis
preferiu não comentar a campanha para que assumisse.
'COISA DO POVÃO'
Lima Duarte vai completar 45 anos de contrato com a Globo. Atualmente participa
da novela das sete, "I Love Paraisópolis" e ganhou fama com personagens de
folhetins, como o caipira Sassá Mutema, mas já liderou programas musicais.
Na década de 1980, apresentou o "Som Brasil", musical da Globo, com camisa
xadrez, colete de camurça e o indefectível bigode escovinha, que subia e descia ao
declamar poemas e contar causos. "Foi a gênese do 'Viola'."
"Estou equipado para isso. Faço um recital que vai de padre Antônio Vieira até
Guimarães Rosa." Mas camafeus da literatura não são para assustar as massas.
"Vai ser coisa do povão daqui pra frente. Era um programa muito simples, temos
de pensar maior."
O presidente da Fundação Anchieta, que mantém a TV Cultura, afirmou "ter
ouvido falar das conversas, mas não estar inteirado" da contratação.
Ao saber que
o próprio Lima havia confirmado a negociação, Marcos Mendonça disse: "O Lima
é um artista com apelo, poderia trazer patrocinadores. Não podemos adicionar
gastos neste ano. Mas, se viesse com patrocínio, não há por que não."
Uma ex-funcionária de Inezita, demitida na quarta (15) com as demais 20 pessoas
que trabalhavam no programa, questiona se o projeto de montar uma produção do
zero irá vingar: "Equipe custa dinheiro. E esse canal não quer gastar dinheiro.
Quer mais é botar a viola no saco".
Com informações de Folha
Publicado por Ronaldo Ribeiro
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